ALMEIDA,
Maria da Conceição; CENCIG, PaulaVanina. (Org.). SILVA, Francisco Lucas da. A
natureza me disse. Natal: Flecha do Tempo, 2007. (GRECOM Grupo de Estudos
da Complexidade)
A obra, A Natureza me Disse é fruto do GRECOM
– Grupo de Estudos da Complexidade da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), que faz parte do Programa de Pós-Graduação em Educação.
A Natureza me Disse, apresenta um conjunto de
conhecimentos sistematizados por Francisco Lucas da Silva, ou Chico Lucas, ao
longo de sua vida. Resultado de uma série de entrevistas realizadas a partir do
contato e convívio com este protagonista onde os autores puderam relatar sua
vida e sua relação com a natureza.
Homem do interior do Rio Grande do Norte, que
reside na comunidade da Lagoa do Piató no município de Assú. Visto como o homem
que ouve a natureza e domador de uma curiosidade extravasada. De início, os
autores travam um debate sobre a (i) informação; (ii) conhecimento e (iii)
sabedoria.
No decorrer dos escritos, a obra é dividida
não por capítulos, mas em conversas – entrevistas feitas com Chico Lucas
iniciados por títulos que dá norte a todo o contexto. No primeiro, “Leitura do
Lugar”, inicia-se sua narrativa contando como surgiram os povos de sua região.
Dos índios que ali vivia e da colonização que ali chegou, formando povos e
povos, mestiços, brancos e negros, e ainda tece comentários sobre a alforria
dos escravos na cidade de Assú.
Na “Leitura de si e de seu mundo”, Chico
Lucas narra como viveu quando criança junto a sua família. Dos lugares onde
morou, das pessoas que ali conhecera, da família que construiu. Contorna as
coisas que aprendeu a fazer com seu pai, colocando-o no mais alto nível de
inteligência, sabedoria e conhecimento das coisas. Com humildade, atribui tudo
que aprendera a seu pai e também, por ser uma pessoa, assumidamente, bastante
curiosa. É interessante perceber a sua luta pela sobrevivência e o encanto que
ele tinha em aprender as coisas. Conta que seu desejo por aprender era tamanho,
que seu pai o comprou uma cartilha do ABC; e dos números, relata que aprendeu
vendo seu pai no comércio que também o ensinou.
Dotado do conhecimento básico das letras e
números, Chico Lucas é “Doutor” em muitas artes e tantas singularidades que é
só dele. Conhecedor da pesca, da agricultura, da construção de canoas e barcos
a motor; entendedor da medicina natural, ecologia, cosmologia, arqueologia, e
tantas outras razões de intelecto.
Noutro vértice, há também a “Leitura da
vegetação” por Chico Lucas, aqui ele demonstra os tipos de vegetação existentes
em sua região – fala de cada uma delas com a intimidade de um biólogo. Na
“Leitura da fauna” narra os tipos de animais e o relacionamento destes com a
natureza, relatando fatos corriqueiros do dia a dia. Na “Leitura de fenômenos
físicos”, explica como estes fenômenos reagem para ele e como ele os explica.
A “Leitura da farmácia da natureza” trata-se
de um relato, por Chico Lucas, dos benefícios de medicamentos ou receitas
naturais para variadas questões de saúde – o que ele mesmo aprendeu observando
ou mesmo com seus pais. E por fim, na “Leitura da pesca”, Chico Lucas como bom
pescador e conhecedor dos peixes, narra o seu modo de pescar e os variados
tipos de peixes presentes na Lagoa do Piató.
Consigne-se a relação de Chico Lucas com a
Natureza – uma relação íntima que leva a importância que ela tem para ele; o
respeito e seu sentimento quanto àqueles que não a respeitam. Desde criança,
foi um grande expectador na observação e reações da natureza, e, de seus
limites também. Declara que “é preciso saber ler a natureza, além de a
observá-la.”
Chico Lucas deixa claro em sua fala seu
sentimento quanto à destruição do homem com a natureza. A devastação da terra,
as queimadas, a poluição da lagoa, afetando diretamente os peixes.
Voltando aos conceitos do início da obra, os
autores conseguem capturá-los na conversação com Chico Lucas, dotando-o como
aquele que tem informação e sabe usá-la, que sabe manipular, enxergar e
observar. Interpretando, inserindo num campo maior e acompanhando as
transformações e ao mesmo tempo em constante diálogo; aquele que tem
conhecimento o bastante de tantas e tantas coisas por se apresentar como um ser
que é curioso e que sempre fora aberto a conhecer e aprender; e por fim,
coroando-o com a sabedoria – intelectual da tradição, artista do pensamento o
que não se reduz a um conjunto de conhecimentos. Este último se transforma
diferente do primeiro, a sabedoria, esta permanece porque se torna essencial e
duradoura O conhecimento se transforma, porém a sabedoria fica porque fala do
essencial e inabalável.